Dois jovens pretos, de 20 e 23 anos, denunciaram nas redes sociais que foram vítimas de racismo cometido por uma gerente de uma loja que vende roupas para bebês, no bairro da Calçada, em Salvador. Em entrevista ao G1, um deles contou que os dois queriam comprar uma roupa, para o filho, que completava dois meses de vida, quando foram “tratados” como assaltantes. 

Segundo o estudante de arquitetura, Gabriel Silva, o caso aconteceu na segunda-feira (24). A loja Espaço do Bebê foi a terceira, em que ele e o primo, o cozinheiro Yuri Silva, pesquisaram o preço de roupas para o mensário do filho. 

“Estava eu e meu primo, o ato não foi só comigo, mas também com meu primo. A gente estava pesquisando preços de roupas para meu filho, que era o mensário dele”, disse.

De acordo com o jovem, os funcionários da loja resistiram em abrir a porta do estabelecimento, por causa da gerente, mas depois abriram. Foi explicado que a porta estava trancada por causa de um assalto no local que teria acontecido há 15 dias. 

“A gente foi em três lojas, essa era a última, na região da Calçada. A gente bateu na porta da sala, que estava trancada. O funcionário da loja veio abrir, a gente entrou e ele logo trancou a porta”.

“Depois eles explicaram que era um procedimento deles, porque a loja foi assaltada há 15 dias”, contou.

O estudante se recorda que o primo viu quando os policiais chegaram no local e alertou o funcionário de que tinha alguém querendo entrar. 

“O funcionário foi abrir a porta e o policial já chegou falando: ‘Bora, bora’ e eu ainda falei: ‘Olha, estão revistando seu funcionário’”, disse. 

“Ele falou: ‘Oxe, o que foi? Vamos lá ver’. Quando a gente foi, a polícia mandou meu primo colocar a mão na cabeça: ‘Você, seu vagabundo, senão eu vou dar tiro. Saia logo’. 

O jovem disse que o caso só foi esclarecido após ele perguntar o que estava acontecendo e dizer que eles estavam apenas fazendo compras. 

“Ele revistou meu primo e eu intercedi: ‘Bom dia, senhor. Qual a ocorrência? O que está se tratando? Ele falou que teve uma denúncia de assalto em andamento e eu perguntei como é que tinha assalto em andamento se a gente estava fazendo compras”, disse Gabriel. 

“O policial, que tinha falado que ia levar a gente para delegacia, depois que viu a errada era a loja, escutou, baixou o tom de voz e disse que a gente ia na delegacia para prestar queixa sobre isso, que é calúnia e ato de racismo”.


O caso foi registrado como calúnia, na delegacia do Bonfim. O jovem conta que vai procurar o Ministério Público da Bahia (MP-BA) para que o ato seja reconhecido como de racismo. 

“Eu pergunto a você, se fossem dois brancos na loja? Ela não teria chamado segurança e polícia nenhuma. Antes da gente entrar, ela falou para o funcionário não abrir a porta: ‘Não, não abra a porta não. Está trancada’, questionou.

“Quando chegamos lá, o delegado de plantão falou que isso não se enquadra em racismo, que era só calúnia. Eu estou correndo atrás por outros meios, falando com advogado, a gente vai na delegacia especial, Ministério Público, para não ficar impune”. 

Ainda segundo o jovem, a supervisora do local procurou o primo dele, nesta terça-feira (25), para um pedido de desculpas. Ele também conta que o perfil da loja nas redes sociais teve o nome modificado após a repercussão. 

“A gerente não pediu desculpa em momento nenhum. A supervisora da loja, depois de tanta repercussão nas redes sociais, entrou em contato com meu primo, hoje, por telefone, pedindo desculpas, mas a gerente não”, disse o estudante. 

O G1 tentou contato com a loja Espaço do Bebê, mas até a publicação desta reportagem, não obteve retorno. 

Fonte: G1

Leave a Reply

Your email address will not be published.