Moradores da zona rural da cidade de Piatã, que fica na região da Chapada Diamantina, denunciam que uma mineradora tem poluído as nascentes de rios locais, além de lançar no ar um resíduo em pó que causa problemas respiratórios na população.
O grupo conta que a atividade extrativista no local existe há cerca de nove anos. No entanto, em 2018, as atividades foram assumidas pela mineradora Brazil Iron que tem causado transtornos para a população. Por medo de represálias, os moradores pediram ao G1 para nãoserem identificados.
“Nós estamos respirando poeira com resíduos de pó de mineração dia e noite. As comunidades consomem a água das nascentes que estão recebendo a lama das carretas e os resíduos de pó com ferro. Algumas pessoas estão deixando de plantar suas hortaliças com medo da contaminação. Muitas vezes as plantas amanhecem com gotas pretas do pó de ferro”, contou uma moradora.
O G1 tentou contato com a Brazil Iron por telefone e por e-mail, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
A mineradora fica em um ponto mais alto da zona rural da cidade, o que facilita a propagação dos resíduos pelo ar e a contaminação dos rios locais. As nascentes mais afetadas são as do Rio da Bocaína, que também é o nome da comunidade que está sofrendo com os transtornos.
O Rio da Bocaína é um afluente – ou seja, um rio menor –, direciona água para o Rio de Contas, que tem cerca de 620 km de extensão e corta a cidade. Ele é o principal da bacia de mesmo nome, uma das maiores da Bahia.
“Tem uma nascente [do Bocaína] que é bem abaixo da mineração. Ela traz água para as pessoas que ficam mais próximas do morro. Nos períodos de chuva, desce uma lama que entra na nascente e só sai barro. Não tem condições de tomar essa água. Temos idosos com problemas respiratórios que já tiveram que ir para o hospital por causa da poeira”, disse outra moradora.
Os moradores relatam também que além da poluição do ambiente, a comunidade tem sofrido com a poluição sonora. Quando a Brazil Iron assumiu a mineração do local, a empresa passou a trabalhar sem interrupção, o que gera um grande barulho por causa do maquinário.
“Como eles trabalham 24 horas por dia, a quantidade de poeira é enorme, a poluição sonora é enorme. E chegou em um momento que a gente não está mais suportando”, desabafou a moradora.
A população já entrou em contato com a prefeitura da cidade por meio da secretaria de Meio Ambiente do município. Além disso, o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) também já foi acionado.
Por meio de nota, a Secretaria de Meio Ambiente de Piatã informou que está acompanhando a situação e solicitou ao Inema uma fiscalização, que já foi feita. A secretaria ainda disse que aguarda o relatório do instituto para tomar providências com relação à mineradora.
O G1 também tentou contato com o Inema, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
Os moradores contam que já chegaram a se reunir com representantes da mineradora, que fizeram promessas de melhoria que só foram cumpridas por um curto espaço de tempo.
“Há uns dois meses a gente se reuniu e conversou com o gerente da mineração. Eles [empresa] prometeram que iam molhar as estradas, porque é obrigatório eles fazerem isso, que iam abrir poços para aumentar a quantidade de água que iriam fazer isso. Passaram muita confiança, muita promessa, porém ficou em torno de uma semana”, lembra uma das moradoras.
Em agosto, o grupo voltou a se reunir com representantes da empresa, que sempre pedem uma prorrogação de prazo para resolver o problema da comunidade.
“No mês passado, a representante da Brazil Iron entrou em contato com o presidente da associação aqui da Bocaína, para pedir que fizessem uma reunião, que ela iria vir para conversar com a gente a respeito do pó. Ela pediu a gente o prazo de oito dias para apresentar uma proposta de solução, demos os oito dias. Depois disso, ela pediu mais 30 para cada proposta. Por exemplo: a questão da poluição sonora, ela pediu 30 dias; a questão da poeira nas casas, pediu 30 dias. Porém são prazos enormes. A gente já deu tantos prazos a eles, e essa situação está horrível”.
No domingo (27), a população fez uma manifestação no local, pedindo que a Brazil Iron tome providências pela situação.
Fonte G1 Bahia
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